Professor de Farmácia do UNIFEB alerta sobre riscos e avanços no uso das “canetas emagrecedoras”
Para o farmacêutico-bioquímico e mestre em inovação em saúde, Mateus
Frederico de Paula, o uso seguro e consciente de novas terapias para
emagrecimento pode transformar a saúde, mas exige acompanhamento profissional
Nos últimos anos, o consumo de medicamentos para emagrecimento tem registrado um crescimento expressivo no Brasil e no mundo. A popularização das terapias conhecidas como “canetas emagrecedoras”, compostas por análogos do GLP-1, ampliou a procura, impulsionada por promessas de resultados rápidos.
Para o farmacêutico-bioquímico e mestre em inovação em saúde,
Mateus Frederico de Paula, professor de Farmácia Hospitalar na graduação em
Farmácia do UNIFEB (Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos), esse
fenômeno tem explicações múltiplas. “O crescimento dessa procura pode ser
explicado por vários fatores. Em primeiro lugar, a prevalência de obesidade e
sobrepeso tem aumentado de forma significativa em todo o mundo, tornando-se um
problema de saúde pública. Além disso, a divulgação de novas terapias
medicamentosas, como os análogos do GLP-1, que são popularmente conhecidos como
‘canetas emagrecedoras’. As redes sociais e o endosso de celebridades e
influenciadores também têm contribuído para ampliar a visibilidade e a adesão a
esses medicamentos. Outro ponto é a crescente valorização estética do corpo
magro, que, somada à busca por soluções rápidas, estimula ainda mais essa
demanda”, ressalta.
Embora o impacto desses medicamentos seja relevante, Mateus
ressalta que eles não podem ser vistos como solução única para a obesidade. “Esses
medicamentos podem, de fato, ter um impacto positivo na saúde da população ao
auxiliar na redução de peso e no controle de doenças metabólicas associadas,
como diabetes e hipertensão. No entanto, é importante destacar que a obesidade
é uma condição multifatorial, que envolve aspectos genéticos, psicológicos,
sociais e comportamentais. Portanto, não existe uma solução única ou
definitiva. Embora esses fármacos representem um avanço considerável no
tratamento, eles não substituem a necessidade de hábitos saudáveis, que incluem
uma alimentação equilibrada, a prática regular de exercícios físicos, o
acompanhamento multiprofissional e o fortalecimento de políticas públicas de
prevenção. Assim, é possível reduzir significativamente os impactos da
obesidade, mas não ‘acabar’ com ela apenas por meio dos medicamentos”, orienta
Mateus.
Segundo o farmacêutico, a curto prazo, os efeitos colaterais
mais comuns incluem náuseas, vômitos, diarreia, constipação e desconforto
abdominal. “Esses sintomas tendem a ser mais intensos no início do tratamento e
podem diminuir com o tempo ou com ajustes de dose. Já em longo prazo, alguns
estudos levantam preocupações em relação a complicações gastrointestinais mais
graves e potenciais impactos em saúde mental, como ansiedade ou alterações de
humor. Por isso, é essencial que o uso seja monitorado de perto por
profissionais de saúde, garantindo segurança e eficácia”, destaca.
Ainda de acordo com o professor Mateus, embora não existam
evidências científicas robustas de que esses medicamentos causem dependência
química, o uso inadequado pode, sim, trazer sérios riscos. “Entre eles, estão
desidratação, distúrbios nutricionais, problemas cardiovasculares e o
desenvolvimento de comportamentos de risco, como a busca compulsiva por
resultados rápidos. Além disso, a automedicação ou a compra em canais não
oficiais aumentam o perigo de efeitos adversos e complicações. Por reconhecer
esses riscos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atualizou
recentemente a regulamentação, tornando obrigatória a retenção da receita
médica para a dispensação de medicamentos contendo análogos de GLP-1. Essa
medida busca reforçar a segurança no uso e garantir que o acesso ocorra apenas
mediante prescrição e acompanhamento adequados. É importante reforçar que esses
fármacos são recursos terapêuticos destinados a pacientes com indicação médica,
e não soluções estéticas de uso indiscriminado”, finaliza.